Empresas de capital aberto geram valor aos seus acionistas por meio do aumento do preço das ações e do fluxo de caixa livre positivo ao longo do tempo. Além da distribuição parcial dos lucros no formato de dividendos, a recompra de ações – stocks buybacks – também resulta em distribuição de caixa aos acionistas.
Em tese, stocks buybacks sinalizam a confiança dos sócios controladores e do conselho de administração nas perspectivas futuras da empresa, considerando o preço vigente das ações em patamar inferior ao patamar eficiente relacionado à sua capacidade de geração de riqueza. Ao reduzir a quantidade de ações em flutuação livre no mercado de capitais e ao sinalizar tal nível de confiança no futuro, as recompras de ações usualmente resultam em aumento do preço das ações no prazo imediato.
Por outro lado, a redução do nível de liquidez das ações remanescentes pode ser um desafio à eficiência da bolsa de valores como ambiente para definição do valor de mercado de uma empresa. Órgãos reguladores e investidores institucionais com posições minoritárias não costumam ser favoráveis a tais procedimentos em grandes volumes, justamente pelo desequilíbrio e pelas distorções causadas pela concentração do controle acionário. A pulverização do controle acionário, portanto, favoreceria o livre funcionamento do preço da ação.
Neste contexto, o volume recorde de US $ 1,1 trilhão em stocks buybacks, no exercício de 2018 nos EUA, despertou posições polarizadas sobre o tema. Diante do excesso de liquidez causado por lucros abundantes sucessivos, empresas norte-americanas estão justamente distribuindo este caixa excessivo aos seus acionistas por meio da recompra das ações. Tal movimento também concentra a propriedade privada de tais empresas, aumentando a proteção contra eventuais tentativas de aquisição agressiva no mercado de capitais. A opinião pública, de modo geral, critica a moralidade deste posicionamento, reivindicando também maior investimento em capital produtivo e maior geração de valor compartilhado para funcionários e sociedade.